Vírus Sigma
“As definições de vírus foram atualizadas”
Acordei com a cabeça deitada no
teclado, o headset torto na cabeça e uma baba no canto da boca. Com os olhos
ainda um pouco embaçados e desorientado fui “cegado” pelo brilho do monitor, demorei um pouco para me “estabilizar”
e ver a hora no canto do monitor 04:23 tentei lembrar o que estava fazendo antes
de dormir. Vi o player de vídeo aberto com um arquivo em “stop” algumas
notificações nas redes sociais e uma barrinha na parte de baixo do navegador dizendo
que o download havia sido concluído.
Era a room² de um jogo de Super
Nintendo, Megamen X, reavaliei se
voltava a dormir ou se permanecia acordado, dei um longo bocejo me sentei na
cama e tirei a camisa do pijama. Estava muito calor aquela noite, dei uma
olhada pela janela que ficava sobre a minha cama e estava aberta no momento e
enxerguei um céu totalmente limpo, um azul turquesa, várias estrelas e uma lua brilhando. Voltei o olhar para o
meu quarto, as cobertas jogadas para os pés da cama, copos e pratos do lado da
cama e na mesinha que estava na frente da minha cama, ao lado do notebook
estava uma xícara pela metade com um café frio. Mesmo frio tomei tudo que restava
em um gole e coloquei a xícara junto às louças do lado da cama.
Olhe as notificações nas redes
sociais, a maioria delas eram de pessoas reclamando que eu havia pegado no
sono, algumas ainda online e outras já haviam partido, bocejei mais uma vez e
fechei todas, não iria responder a eles, pelo menos não agora. Abri a pasta de
downloads, procurei o arquivo da room, copiei ele e coloquei em uma que ficavam
as outras, abri emulador e iniciei o jogo.
“Um malware foi identificado”
Mais uma vez a voz do antivírus
falou e no momento que ela falou o emulador se fechou e apareceu o aviso – Vírus Sigma: Arquivo MegaManX.room –
Coloquei em mover para quarentena, mas o aviso voltou a aparecer, dessa vez
botei em excluir o arquivo, porém mais uma vez apareceu, mas agora em outro
arquivo – Vírus Sigma: Arquivo Google
Chrome.exe – resolvi colocar para
scanear o sistema, porém o programa travou em 1%. Reiniciei o notebook, já
estava meio nervoso. Assim que religou a voz disse novamente.
“Um malware foi dentificado”
Abri o aviso e apareceu 243 itens
infectados com a merda do vírus e em primeiro lugar estava – Vírus Sigma: Arquivo Avast.exe – Fui
tentar iniciar um scaneamento novamente, mas igual a antes o programa bugou e
ficou travado, fechei ele através do
gerenciador de tarefas e abri o navegador diferente do meu principal para
baixar outro antivírus. Quando eu abri ele o prompt de comandos se abriu e nele
estava uma imagem do personagem Sigma do jogo que eu havia baixado.
Em seguida palavras foram
aparecendo abaixo da imagem “hahaha, muito obrigado, fazia tempo que não
me procuravam” fiquei pensando se podia realmente levar
aquilo a sério, mas ignorei e continuei a procurar um novo antivírus. Enquanto eu ia procurando a janela continuava
a mandar mais mensagens “Não faz diferença em qual software você irá
confiar, eu corrompo a todos” eram 5:30 e eu estava começando a ficar
puto com a situação.
Iria demorar 15 minutos para
baixar o programa, nesse meio tempo resolvi pesquisar sobre a porcaria do vírus
para saber se tinha alguma maneira mais fácil de eliminar ele, enquanto isso a
janela continuava a aparecer na frente de tudo com mais frases “Por
que está pesquisando sobre mim”, ”Eu estou aqui”, “Converse comigo, eu tenho
todas suas respostas”. Não achei nada relacionado a um vírus de computador,
resolvi pesquisar sobre o personagem do jogo em questão e a janela voltou a
aparecer “Agora você está chegando
perto”.
Fiquei mais puto com a situação e
resolvi digitar na janela:
“Quem é você e o que você quer?”
“Eu já
disse, eu irei corromper tudo!”
“Como você pretende me corromper?”
“Você já é um ser corrompido...”
“O
que você quer dizer com isso?”
“Ora, ora, você quer que eu
fale sobre sua depressão, sobre as cicatrizes nos seus braços?”
“Agora
já chega, quem é o filho da puta que está fazendo isso?”
“Eu sou Sigma, você já sabe
disso, mas há muitas coisas que você não sabe.....”
“Porra,
mostre quem você é, não fique de mimi com apelidos ridículos”
“Eu vou lhe mostrar algo.....”
Nesse instante abriu a imagem da web cam do quarto da minha
namorada, ela estava na cama de costas para a webcam, estava em cima de alguém
totalmente nua, pulava sobre essa pessoa e soltava gemidos e falou “Flávio, aaah, continua, aaah” . Mais
uma vez a janela subiu “Sua
namorada realmente está se divertindo com seu amigo não é” não sabia o que responder apenas
fiquei olhando para a tela do computador com vários sentimentos dentro de mim,
fúria, tristeza, ódio e outra mensagem subiu “Vamos continuar com nossas revelações.....”
“Aquele
garoto é um baita de um desgraçado, chorão e preguiçoso, eu tenho vergonha de
ter tido um filho assim. Fica a porra do dia inteiro naquele computador e
quando não está nele, está chorando. Preferia ter jogado ele na lixeira quando era bebe, não teria
tido tanto stress.”
Era a voz da minha mãe, fiquei atônito mais uma vez, não sabia o
que fazer e aquela maldita janela voltou a subir
“
Mas agora vamos falar de você Marcos, um menino baixo de cabelos escuros e
magro que passa as noites se masturbando
vendo vídeos pornográficos com animais, que passa a vida como um merda, que
nunca ajudou ninguém, que nunca conseguiu ser quem quis ser na vida e só ficou
chorando. Seu estado é lastimável, sua existência é lastimável.
Nesse instante vários arquivos de áudios começaram a se
reproduzir, diversas vozes conhecidas. Meu pai, meus tios, meus amigos, minha mãe,
minha vó e todos diziam praticamente as mesmas frases.
“Queria
que ele desaparece-se”
“Queria
que nunca tivesse conhecido ele”
“Queria
que a minha mulher tivesse abortado”
“Ele
podia se explodir que ninguém iria ligar”
“Ele
não é nada e nunca vai ser bosta nenhuma”
Peguei duas laminas no meu guarda roupa, sentei na beira da
janela, senti o metal cortando a minha carne, as minhas veias até travarem nos
meus ossos. Fiquei sentado observando o céu, com sangue escorrendo dos dois
pulsos, lágrimas escorrendo dos olhos. Senti meu corpo escorregando da janela e
o vento batendo no meu rosto e então um impacto com o chão. Ainda estava vivo,
estava com dor pelo corpo todo e todas aquelas frases ecoavam pela minha cabeça
me torturando mentalmente até finalmente a morte me alcançar.
H.
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